
Especial – Dia Mundial da Conscientização do Autismo
Três olhares, um Propósito: Conhecimento, Amor e Inclusão
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No dia 2 de abril, celebramos o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, uma data que reforça a importância da inclusão, do respeito às diferenças e do acolhimento às diversas formas de existir. Para marcar esse momento tão especial, nós da Teorema Sistemas reunimos três relatos tocantes e complementares que nos ajudam a enxergar o autismo sob diferentes perspectivas:
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A visão técnica e humanizada da Prof.ª Ana Barby, referência em Educação Especial e Inclusiva na UNICENTRO;
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A jornada transformadora de Eliane Scavronski, Analista da Datalogos empresa parceira da Teorema Sistemas, mãe de Francisco e diretora da AGMA (Associação Guarapuava Mundo Azul).
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A história emocionante de Emelly Kelm, Analista de Dados da Datalogos empresa parceira da Teorema Sistemas e mãe de Benjamim;
Três vozes, três vivências, um propósito comum: promover a conscientização e construir uma sociedade mais sensível e acessível para todos.
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Parte 1 – Entrevista com a Prof.ª Dra. Ana Aparecida de Oliveira Machado Barby
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Autismo não é o fim de um caminho. É o começo de uma nova forma de ver o mundo – mais sensível, mais intensa e cheia de descobertas. Quando abrimos nossos olhos e corações para essa diversidade, todos aprendemos a crescer juntos.
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Para marcar essa data, conversamos com a professora e pesquisadora Ana Barby, uma referência na área da Educação Inclusiva e Especial desde 1991. Com mais de 30 anos dedicados à docência e à pesquisa, Ana é Doutora e Mestre em Educação pela UFPR, professora do Departamento de Pedagogia (DEPED) e do Programa de Pós-Graduação em Educação da UNICENTRO (PPGE). Ao longo de sua trajetória, tem atuado com ênfase na formação de professores, abordando temas como adaptações curriculares, Comunicação Alternativa, síndrome de Down e o Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Nesta conversa, ela nos ajuda a compreender melhor o autismo, a importância do diagnóstico precoce, o papel das famílias e da sociedade, e nos convida a olhar para as pessoas no espectro com mais empatia, respeito e responsabilidade.
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Entendendo o TEA: o que é o Transtorno do Espectro Autista?
Dra Ana Barby explica que o TEA é uma condição complexa, caracterizada por alterações na comunicação social e pela presença de comportamentos repetitivos, geralmente observados até os 36 meses de idade. Muitas crianças autistas demonstram interesses específicos e intensos por temas como astronomia, dinossauros, números ou letras, além de gostarem de organizar e classificar objetos. Mas é essencial entender que o espectro é amplo e diverso: “cada pessoa é única e apresenta necessidades e talentos próprios. Por isso, é fundamental respeitar o ritmo e a forma como cada uma aprende e dá significado ao mundo”, destaca a professora.
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Desmistificando o Autismo
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Muitos mitos ainda cercam o autismo. É comum ouvirmos que toda pessoa autista tem super dotação, que não é carinhosa, que não aprende ou não pode ser independente. Isso não é verdade. O espectro é vasto e as pessoas são diferentes entre si, inclusive dentro dos mesmos níveis de suporte, afirma Ana. Ela ressalta que a literatura reconhece três níveis de suporte para o TEA, e que o atendimento deve considerar as necessidades específicas de cada pessoa, sem estereótipos ou generalizações.
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Diagnóstico precoce e primeiros passos
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Receber um diagnóstico de autismo pode ser um momento desafiador para a família. Em alguns casos, os sinais são claros nos primeiros dois anos, o que permite uma intervenção precoce, mas nem sempre é assim. Há pessoas que só recebem o diagnóstico na adolescência ou mesmo na vida adulta, explica Dra Ana. Após o diagnóstico, é fundamental buscar o acompanhamento de uma equipe multiprofissional, envolvendo profissionais da saúde, da educação e a própria família. Essa equipe irá construir um plano de intervenção respeitando as necessidades e o ritmo da criança. Ambientes estimulantes, amorosos e respeitosos fazem toda a diferença para o desenvolvimento das habilidades da criança, reforça.
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Acolhimento e inclusão: um compromisso de todos
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A caminhada de uma família atípica é repleta de descobertas e aprendizados. Para os pais que estão iniciando essa jornada, Ana deixa uma mensagem inspiradora: “ofereçam acolhimento respeitoso, amor incondicional e oportunidades de aprendizagem e convívio social. Acreditem no potencial dos seus filhos. Cada desenvolvimento é único e pode ser surpreendente”.
Quanto ao papel da sociedade, a professora reforça que a inclusão é garantida por lei — e precisa ser colocada em prática. A Lei Brasileira de Inclusão (LBI) assegura o direito de acesso à educação, saúde, trabalho e participação social a todas as pessoas com deficiência, incluindo o TEA. É preciso cultivar valores de respeito e empatia. Somente assim conseguiremos construir uma sociedade verdadeiramente inclusiva.
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Redes de apoio e recursos disponíveis
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As escolas públicas da rede municipal e estadual em Guarapuava oferecem o Atendimento Educacional Especializado (AEE), na forma de professor de apoio e sala de recurso multifuncional. O atendimento de saúde é realizado junto aos órgãos vinculados à Secretaria de saúde do município. Também merece destaque o atendimento realizado pela APAE escola e Centro de Atendimento de Guarapuava. Na UNICENTRO, a equipe de atendimento educacional especializado realiza o atendimento aos estudantes e professores com TEA em todos os cursos da universidade
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Um convite à reflexão no Dia Mundial da Conscientização do Autismo
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Para finalizar, Ana compartilha um dado importante: “segundo uma pesquisa divulgada pelo CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA) em 2023, estima-se que 1 em cada 36 crianças de 8 anos está no espectro autista. No Brasil, apesar da ausência de dados oficiais consolidados, os números provavelmente são semelhantes. O TEA é hoje o segundo maior grupo entre os estudantes da Educação Especial no Brasil. Essas pessoas enriquecem nossas vivências e nos desafiam a sermos melhores — como educadores, como profissionais, como cidadãos e como seres humanos”.
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Parte 2 – Entrevista com Eliane Scavronski.
Analista de Suporte e Implantação – Datalogos | Diretora da AGMA
Olá, sou Eliane Scavronski, graduada em Tecnologia em Sistemas para Internet. Trabalho como Analista de Suporte na Datalogos e iniciei recentemente no setor de implantação. Sempre me identifiquei com a resolução de problemas, algo que aplico diariamente ajudando nossos clientes a aproveitar o melhor das soluções. Sou mãe do Francisco, um menino incrível de 9 anos, diagnosticado com autismo aos 3 anos. Desde então, nossa vida mudou — e para melhor. Encontrei novos sentidos, descobri uma força que nem sabia que tinha e ganhei uma nova perspectiva sobre inclusão e acolhimento.
Hoje, também faço parte da diretoria da AGMA – Associação Guarapuava Mundo Azul, que reúne mais de 500 famílias de autistas da cidade. Juntas, trocamos experiências, buscamos apoio e lutamos por nossos direitos. O diagnóstico do Francisco veio rápido — na primeira consulta com a neuropediatra, em 15 de abril de 2018. Ele sempre demonstrou sinais como interesse intenso por trens, enfileirar objetos por cor e tamanho, evitar lugares cheios e olhar lateralizado. A ausência da clássica “bagunça infantil” também chamou atenção. Receber o diagnóstico é algo que muda tudo. O desconhecimento gera medo. Mas descobrimos que o amor e o apoio fazem toda a diferença. A rede de apoio foi essencial: familiares, terapeutas, escola, amigos — e especialmente meu esposo, Julio, que sempre esteve ao meu lado, aprendendo e participando ativamente.
No início, deixei meu trabalho para acompanhar de perto a rotina de terapias e adaptação. Hoje, Francisco está no 4º ano, acompanha a turma com dedicação e não necessita de tutor ou atividades adaptadas. Tem total autonomia nas tarefas diárias, higiene, alimentação e escolhas pessoais. Com amor, apoio e respeito, eles mostram todo seu potencial. Francisco é cercado por afeto e tem florescido lindamente. Ainda enfrentamos barreiras sociais. Por isso, reforço: antes de julgar, tente conhecer. Antes de apontar, tente entender. O autismo é uma forma diferente de perceber o mundo — não um erro a ser corrigido.
Ser mãe já exige muito. Ser mãe atípica exige ainda mais. Felizmente, conto com o apoio do Julio, que passou a trabalhar com transporte escolar e pode ter mais flexibilidade. Também tenho o privilégio de trabalhar em uma empresa que respeita minhas necessidades, oferecendo compreensão e flexibilidade quando preciso acompanhar o Francisco.
Essa parceria entre família e trabalho é essencial. Permite que eu me dedique à minha profissão sem deixar de ser presente na vida do meu filho. Cuide de você, para conseguir cuidar do seu filho. Antes do diagnóstico, existe uma criança com sentimentos, curiosidade e muito a oferecer ao mundo. Acredite no potencial do seu filho. Com terapias, acompanhamento e muito afeto, ele pode chegar muito mais longe do que se imagina. Empatia não é viver a mesma experiência. É ouvir sem julgar. É respeitar sem tentar mudar. É acolher, mesmo sem entender tudo.
O autismo não precisa estar dentro da sua casa para estar dentro do seu mundo. Quando todos se comprometem com inclusão e respeito, a sociedade inteira evolui. Que possamos olhar para além do diagnóstico e enxergar cada pessoa autista em sua singularidade. A verdadeira inclusão começa com respeito, empatia e informação. Autismo não é limite. É um jeito diferente de ser e viver. E juntos, somos capazes de transformar realidades.
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Parte 3 – Entrevista com Emelly Kelm, Analista de Dados da Teorema Sistemas
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Quem é Emelly?
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Emelly Kelm, 29 anos, é Analista de Dados da Datalogos empresa parceira da Teorema Sistemas. Formada em Ciências Biomédicas, sua paixão pela tecnologia começou cedo, quando atuava como instrutora de cursos de Design Gráfico e Audiovisual. Com um curso em Desenvolvimento Full Stack, ingressou na Teorema e hoje trabalha com o módulo Teorema Auditor.
Além da trajetória profissional, Emelly compartilha uma jornada pessoal de força e amor: a maternidade do Benjamim, seu filho de 4 anos, diagnosticado com TEA, TDAH e Síndrome de Dravet. “Percebemos os sinais por volta dos 6 a 7 meses. Aos 1 ano e 3 meses, ele ainda não falava. O diagnóstico veio no início de 2024, junto com o de TDAH e a Síndrome de Dravet”.
Apesar do impacto emocional de receber três diagnósticos, Emelly encontrou acolhimento no amor. “A aceitação foi tranquila. Ele é uma criança feliz, amorosa e maravilhosa, exatamente do jeitinho que é. Benjamim divide o tempo entre duas escolas, com acompanhamento e adaptações importantes, como um espaço com redes para momentos de crise. Em casa, vive em um ambiente calmo e estimulante — com liberdade para participar da rotina e brincar à vontade. A sociedade tem evoluído, mas ainda temos desafios. O que mais precisamos é de empatia, respeito e inclusão verdadeira. A Teorema tem me apoiado muito. Em momentos em que preciso me ausentar, a empresa permite o trabalho remoto e entende minha realidade”.
Emelly acredita que muitas empresas ainda não estão preparadas para incluir famílias atípicas, mas com pequenas mudanças, como políticas de flexibilidade e formação das equipes, é possível criar ambientes mais humanos.
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Para outras famílias
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Busque entender o seu filho com o coração. Nem sempre é ele quem deve se adaptar à rotina — às vezes, somos nós que devemos mudar o ambiente para acolhê-lo. Para quem deseja ser mais empático: deixe o julgamento de lado. Observe, entenda, respeite. Às vezes, o autista já entendeu, só não quer fazer. Isso também é comunicação. Mais do que incluir, é preciso respeitar e aceitar as diferenças. É na diversidade que encontramos a verdadeira força e beleza da humanidade.
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Neste mês de abril, e em todos os dias e meses do ano, que possamos abrir o coração e a mente para compreender o que o autismo realmente é — e, mais importante, quem são as pessoas que estão por trás desse diagnóstico. Que cada história compartilhada aqui sirva de inspiração para cultivar um mundo mais justo, inclusivo e humano.
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